domingo, 4 de setembro de 2011

Projetos investigativos latino-americanos

Na manhã deste domingo, foram apresentados os resultados das reportagens cuja investigação teve início em um curso latino-americano de projetos, realizado com recursos de fundos específicos e apoio do Instituto Prensa y Sociedad.

Do Brasil, o trabalho de Priscila de Souza, do jornal Extra, mostrou o enriquecimento ilícito de vereadores da baixada fluminense. A repórter fez um levantamento nas câmaras municipais e identificou quais eram os vereadores mais antigos e que se perpetuavam no poder por até 30 anos. Em seus currais eleitorais, foram criados centros de saúde irregulares que pedem até mesmo título de eleitor para os beneficiados que desejam ter atendimento.

Na Argentina, a investigação de Leonardo Nicosia, do jornal Perfil, tratou do tema das minas instaladas em áreas de preservação da Cordilheira dos Andes e que estão contaminando a região. Além de analisar dados numéricos, o repórter fez um cruzamento de imagens geológicas para detalhar o nível de contaminação local.

Milagros Salazar, do IDL Reporteros, do Peru, mostrou a falta de fiscalização da pesca de anchovas no país. Ela analisou toda a cadeia de produção, exportação e importação, com cruzamento de dados de mais de 100 mil documentos.

Adriana Rivera, do jornal El Nacional, da Venezuela, investigou a contratação secreta de serviços cubanos para a elaboração de cédulas de identidades digitais venezuelanas que continham até mesmo informações cartoriais e policiais dos cidadãos, nos chips.

Da Colômbia, Catalina Lobo-Guerrero, mostrou o boom de minas em território colombiano, com uma massiva concessão de terras e grande impacto ambiental. César Batiz, do Últimas Notícias, da Venezuela, falou sobre a grande quantidade de contratos assinados entre o governo e uma empresa de energia elétrica em um curto espaço de tempo.

Jornalistas brasileiros ganham o principal Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo 2010-2011



A equipe de repórteres integrada por James Alberti, Gabriel Tabatcheik, Karlos Kohlbach e Katia Brembatti, do jornal Gazeta do Povo e da RPC-TV, do Paraná, receberam o principal Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo 2010-2011, outorgado pelo Instituto de Prensa y Sociedad (IPYS) e pela Transparência Internacional. A cerimônia de premiação ocorreu na noite de ontem, 3 de setembro, em Guayaquil, no Equador.

A série de reportagens ganhadora, chamada de “Diários Secretos”, revelou um esquema milionário de desvio de recursos públicos da Assembléia Legislativa do Paraná. O trabalho foi exibido na tarde de ontem e toda a base de dados está disponível na internet. O prêmio é de US$ 15 mil.

O segundo lugar, foi entregue ao jornalista Carlos Dada, do El Faro, de El Salvador, pela reportagem “Assim matamos o monsenhor Romero”, que revela o planejamento e a execução de um dos crimes mais impactantes da história do país. O prêmio é de US$ 10 mil.

Com a reportagem “Unidade de investigação financeira como arma política K”, o jornalista Hugo Alconada, do jornal argentino La Nación, ficou com o terceiro lugar, com prêmio de US$ 5 mil.

O júri foi integrado por María Teresa Ronderos, da Colômbia; Marcelo Beraba, do Brasil; Gustavo Gorriti, do Peru; e Fernando Ruiz, da Argentina. Eles se reuniram em Guayaquil, no Equador, dois dias antes de iniciar a Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo (Colpin) para avaliar e escolher os melhores trabalhos jornalísticos apresentados nesta 8ª edição do prêmio.

Ao todo, foram inscritas 183 reportagens, publicadas na imprensa, na internet ou veiculadas em emissoras de rádio e televisão. Destas, 34 foram pré-selecionadas, 14 receberam menções honrosas e três foram as ganhadores finais.

Confira a lista completa dos premiados: http://www.ipys.org/index.php?q=noticia/826

A conferência segue neste domingo e terminará no começo da tarde desta segunda-feira, 5 de setembro. Continue acompanhando por este blog e também no Twitter, pela hashtag #Colpin2011. O evento também está sendo transmitido pela internet neste site: http://www.colpin.ipys.org/

sábado, 3 de setembro de 2011

Enriquecimentos ilícitos

Jornalistas da Argentina, México e Equador apresentaram suas investigações sobre o enriquecimento ilícito de personalidades públicas de seus países, na segunda plenária desta tarde.

Daniel Santoro, do jornal argentino Clarín, mostrou a máfia dos medicamentos e o cruzamento de dados que apontaram para a relação entre os negócios de Hugo Moyano e a campanha eleitoral de Cristina Kirchner. Com contas na Suíça e no Uruguai, Moyano também fazia desvios de dinheiro público. “Quando aparecem os paraísos fiscais destes países em uma investigação, é necessário acender a luz amarela”, alerta Santoro.

Mónica Almeida, do jornal El Universo – veículo deste país sede do evento, Equador – relatou como Irina Cabezas, vice-presidente da Assembléia Nacional, obteve um crescimento considerável em seu patrimônio que não correspondia aos seus rendimentos declarados. Com a ajuda de um operador político oculto, ela também ganhou apoio dos seus pares e muito poder no governo. Em um pronunciamento do presidente Rafael Correa, apresentado por Mónica, ele sai em defesa de Irina e classifica a imprensa local de “corrupta”, principalmente o jornal El Universo, que publicou a denúncia.

O patrimônio estrondoso do presidente Felipe Calderón, do México, foi o tema da apresentação de Daniel Lizárraga, da revista Proceso. Nos últimos anos, seus bens cresceram onze vezes e incluem casas e um edifício situados em uma mesma quadra, onde vivem parentes e secretários do presidente para despistar a declaração patrimonial pública.

Investigações brasileiras III

Encerrando as mesas de debates nesta manhã, a Colpin mostrou duas séries de reportagens brasileiras já premiadas. A primeira delas é da equipe paranaense do jornal Gazeta do Povo e da emissora RCP TV, ambas do mesmo grupo de comunicação: uma extensa e detalhada investigação sobre os “Diários Secretos” da Assembléia Legislativa do Paraná. Com publicações simultâneas e complementares no jornal impresso, na internet e na TV, as reportagens revelaram um esquema milionário de corrupção no órgão público.

Ao contrário do que se podia imaginar, o Diário Oficial da Assembléia não era público, não estava disponível para a população. Com acesso exclusivo aos dados, foram realizados cruzamentos das informações no Excel, que resultaram em mais de 15 mil linhas de números e ações secretas. Todo o trabalho foi divulgado em uma grandiosa base de dados, inclusive com a realização de um blog com as principais reportagens traduzidas para o espanhol e o inglês: http://www.rpctv.com.br/diariossecretos-espanol/

A repercussão foi a ocupação da Assembléia Legislativa por cerca de 500 estudantes e muitas manifestações se espalharam pela cidade de Curitiba, reunindo 30 mil pessoas, segundo a Gazeta do Povo. Na apresentação de hoje, a equipe mostrou uma das reportagens que foi veiculada na emissora, resumindo o caso. (Veja a apresentação)

Roberto Cabrini, do canal SBT, exibiu um resumo da série “Sexo, Intrigas e Poder”, originalmente veiculada no programa “Conexão Repórter”, apresentado pelo próprio jornalista. Por causa desta denúncia, três padres brasileiros estão sendo julgados atualmente por pedofilia, caso inédito na Justiça brasileira.

Na exibição mostrada durante a sua fala, nesta manhã, o trecho comprova o abuso sexual de coroinhas por padres de Arapiraca, Estado de Alagoas.

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Investigações brasileiras II

Seguindo o debate sobre as investigações brasileiras na 3ª Colpin, a mesa “Investigando o País” trouxe os trabalhos de Leonencio Nossa, do jornal O Estado de S. Paulo, e de Lucio Vaz, publicada no Correio Brasiliense.

“As Guerras Desconhecidas” foi um caderno de 24 páginas, realizada por Leonencio Nossa, sobre 32 revoltas do século XX totalmente desconhecidas e não registradas nos livros de história e longe da memória coletiva do país. Com dados de documentos e depoimentos de pessoas envolvidas direta ou indiretamente, as reportagens mostraram também que 556 civis e 100 militares morreram nos combates. Além da equipe do próprio jornal, nas pequenas cidades os jornalistas contaram com a ajuda de radialistas locais para a busca de fontes, além de entrevistas com historiadores da região.

Leonencio salientou também que o Brasil tem o mito de ser cordial e que, ao contrário dos vizinhos latinos, não parte pra luta. A publicação, no entanto, mostrou que o brasileiro tem sim o sangue quente e que há muitas guerrilhas não conhecidas, de acordo com ele.

Lucio Vaz publicou no jornal Correio Brasiliense a série “Terras Estrangeiras”, na qual mostrou que as melhores terras do país estão em mãos de empresários e empreendedores estrangeiros, sem o controle do governo federal. Muitas das empresas, inclusive, foram registradas como nacionais para burlar a fiscalização. A princípio, a pauta não era exatamente essa, mas surgiu de acordo com análises de dados.

O repórter contou com a ajuda de uma fonte do Incra, que fez o levantamento dos dados filtrando os números por cada município, mostrando onde estavam os maiores investimentos. No Nordeste, os investimentos estrangeiros se concentram no Ceará, onde o governo local também investe na infraestrutura só para atender aos empreendimentos estrangeiros, enquanto boa parte da cidade não tem sequer saneamento básico.

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Investigações brasileiras I

Neste segundo dia de debates, jornalistas brasileiros apresentaram as principais reportagens investigativas publicadas em 2010 e a repercussão ao longo desde ano. O Brasil é o país convidado nesta edição da Colpin.

Para começar os trabalhos, Veridiana Sedeh mostrou a atuação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e como os cursos de Reportagem com Auxílio do Computador (RAC) contribuíram em algumas dessas séries de matérias que estão concorrendo ao Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo na noite deste sábado, aqui em Guayaquil, no Equador. (Veja aqui a apresentação)

Rubens Valente, do jornal Folha de S. Paulo, detalhou a investigação que levou à queda de Erenice Guerra ainda durante o governo Lula e na época da eleição da presidente Dilma Rousseff. Por meio de um trabalho de equipe, no qual cada repórter entrevistava diferentes tipos de fontes e juntos analisavam os documentos, o jornal procurou fazer uma investigação própria a partir de uma denúncia da revista Veja. A Folha mostrou o lobby de filhos de Erenice dentro da Casa Civil e como os encontros com o governo ocorriam em locais privados. O trabalho teve grande repercussão internacional nos princiapais jornais. (Veja a apresentação)

Na continuação, Andreza Matais, também da Folha, falou sobre o caso do ministro Antonio Palocci, segunda denúncia do jornal que também derrubou um membro importante do governo. Da mesma forma, a investigação foi feita pela equipe de jornalistas da sucursal de Brasília, com participação de Rubens Valente e outros repórteres. No caso de Palocci, a pesquisa mostrou o rápido enriquecimento do ministro, questionado inclusive pelo próprio PT. (Veja aqui a apresentação)

Leandro Colon, do jornal Estado de S. Paulo e que ganhou o segundo prêmio na Colpin de 2010, volta ao evento para mostrar a série de reportagens sobre as fraudes no orçamento federal. As reportagens mostraram como as organizações não-governamentais fantasmas contratadas pelo governo não realizavam os eventos contratados e as verbas federais foram desviadas. O esquema envolvia muitos deputados, inclusive o relator do orçamento. Colon enfatizou a metodologia do trabalho e a necessidade de pesquisar e analisar as informações públicas disponíveis, como a leitura cuidadosa do Diário Oficial da União e a dedicação quase exclusiva de repórteres para essas investigações. (Veja a apresentação)

Para o jornal Estado de Minas, o repórter Thiago Herdy investigou as notas frias usadas pelos parlamentares estaduais para ter o reembolso dos gastos, previstos pela verbas indenizatórias. Com um trabalho detalhado de Reportagem com Auxílio do Computador, Herdy e a equipe de repórteres mostraram como é possível chegar a uma denúncia analisando as próprias informações públicas que estavam disponíveis no site da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Usando os recursos do Google Maps, eles também localizaram as empresas frias no mapa. (Veja a apresentação)

A plenária seguinte também vai reunir jornalistas brasileiros. Acompanhe a cobertura por este blog e também no Twitter, pela hashtag #Colpin2011. O evento também está sendo transmitido pela internet neste site: http://www.colpin.ipys.org/

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Telegramas do Wikileaks

O tratamento das informações divulgadas pelo Wikileaks e as reportagens publicadas ao longo deste ano por grandes jornais foi o tema de uma das primeiras mesas de debates desta 3ª edição da Colpin, iniciada hoje.

Giannina Segnini, do jornal La Nación, da Costa Rica, mostrou como foi criada uma extensa e detalhada base de dados, com diferentes classificações, incluíndo informações também de outros países da América Central. Os documentos foram publicados na íntegra e os leitores puderam acompanhar e fiscalizar o trabalho jornalístico, contou ela. Uma das revelações mostrou inclusive que um sobrinho de Muammar Gadafi trabalhava como secretário no governo da Nicarágua e intermediava negociações diplomáticas diretamente com a Líbia.

A Embaixada dos Estados Unidos, de acordo com Giannina, não se pronunciou sobre as publicações, nem deu respostas específicas ao jornal.

De El Salvador, o editor do jornal El Faro, Carlos Dada, contou que, no começo, as mensagens do Wikileaks chegavam por e-mail, perguntando se ele poderia divulgar as informações. Desconfiado, o jornalista apagou várias dessas mensagens e só acreditou na fonte quando a colega Giannina o alertou de que vários jornais da região também já haviam recebido esses e-mails e estavam trabalhando as informações. Para Dada, é importante os jornalistas sempre questionarem a origem das fontes e que a maior contribuição local do Wikileaks foi justamente mostrar como El Salvador é visto pelo departamento mais importante dos Estados Unidos.

No Brasil, Tatiana Farah, do jornal O Globo, relatou que os jornais não receberam esses e-mails duvidosos e que os telegramas foram trazidos pela jornalista Natália Viana, diretamente de Londres, em um pen drive. Em O Globo, os documentos foram analisados principalmente pela editoria de Internacional, com ajuda pontual de outras editorias, somando cerca de 20 repórteres que trabalharam na publicação das reportagens.

Entre as principais revelações relacionadas ao Brasil estão a imagem do ex-presidente Lula e a sua relação com os colegas latino-americanos, fatos históricos desconhecidos sobre a presidente Dilma Rousseff, a participação do ex-ministro José Dirceu e as suas revelações aos americanos desconhecidas dos brasileiros, e também a observação cuidadosa dos Estados Unidos com relação às negociações do Brasil com o Oriente Médio, em especial com o Irã.

Pedro Miguel, do jornal mexicano La Jornada, alertou para a necessidade dos meios de comunicação acordarem para essa busca de informações e lutarem pela transparência dos dados que dizem respeito à diplomacia dos seus países.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Conferência começa nesta sexta-feira

A cidade de Guayaquil, no Equador, vai sediar a 3ª Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo (Colpin), entre os dias 2 e 5 de setembro de 2011. O encontro é organizado anualmente pelo Instituto Prensa y Sociedad (IPYS) e pela Transparência Internacional desde 2009.

No evento, os melhores jornalistas investigativos de todo o continente americano irão apresentar as grandes reportagens publicadas no ano de 2010, que concorrem também ao Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo. O primeiro prêmio é de US$ 15 mil, o segundo é de US$ 10 mil, e o terceiro lugar receberá US$ 5 mil.

O Brasil é o país convidado nesta 3ª edição da Colpin e durante toda a manhã de sábado, no segundo dia de debates, serão apresentados os trabalhos dos jornalistas Rubens Valente, da Folha de S. Paulo; Andreza Matais, da Folha de S. Paulo; Leandro Colon, do Estado de S. Paulo; Thiago Herdy, do Estado de Minas; Leonencio Nossa, do Estado de S. Paulo; Lucio Vaz, do Correio Brasiliense; Fabio Gusmão, do Extra; James Alberti, da Gazeta do Povo; e Roberto Cabrini, do SBT.

Conheça mais sobre os trabalhos concorrentes ao prêmio neste site e acompanhe a cobertura do evento, em português, por este blog.