O tratamento das informações divulgadas pelo Wikileaks e as reportagens publicadas ao longo deste ano por grandes jornais foi o tema de uma das primeiras mesas de debates desta 3ª edição da Colpin, iniciada hoje.
Giannina Segnini, do jornal La Nación, da Costa Rica, mostrou como foi criada uma extensa e detalhada base de dados, com diferentes classificações, incluíndo informações também de outros países da América Central. Os documentos foram publicados na íntegra e os leitores puderam acompanhar e fiscalizar o trabalho jornalístico, contou ela. Uma das revelações mostrou inclusive que um sobrinho de Muammar Gadafi trabalhava como secretário no governo da Nicarágua e intermediava negociações diplomáticas diretamente com a Líbia.
A Embaixada dos Estados Unidos, de acordo com Giannina, não se pronunciou sobre as publicações, nem deu respostas específicas ao jornal.
De El Salvador, o editor do jornal El Faro, Carlos Dada, contou que, no começo, as mensagens do Wikileaks chegavam por e-mail, perguntando se ele poderia divulgar as informações. Desconfiado, o jornalista apagou várias dessas mensagens e só acreditou na fonte quando a colega Giannina o alertou de que vários jornais da região também já haviam recebido esses e-mails e estavam trabalhando as informações. Para Dada, é importante os jornalistas sempre questionarem a origem das fontes e que a maior contribuição local do Wikileaks foi justamente mostrar como El Salvador é visto pelo departamento mais importante dos Estados Unidos.
No Brasil, Tatiana Farah, do jornal O Globo, relatou que os jornais não receberam esses e-mails duvidosos e que os telegramas foram trazidos pela jornalista Natália Viana, diretamente de Londres, em um pen drive. Em O Globo, os documentos foram analisados principalmente pela editoria de Internacional, com ajuda pontual de outras editorias, somando cerca de 20 repórteres que trabalharam na publicação das reportagens.
Entre as principais revelações relacionadas ao Brasil estão a imagem do ex-presidente Lula e a sua relação com os colegas latino-americanos, fatos históricos desconhecidos sobre a presidente Dilma Rousseff, a participação do ex-ministro José Dirceu e as suas revelações aos americanos desconhecidas dos brasileiros, e também a observação cuidadosa dos Estados Unidos com relação às negociações do Brasil com o Oriente Médio, em especial com o Irã.
Pedro Miguel, do jornal mexicano La Jornada, alertou para a necessidade dos meios de comunicação acordarem para essa busca de informações e lutarem pela transparência dos dados que dizem respeito à diplomacia dos seus países.