sábado, 3 de setembro de 2011

Enriquecimentos ilícitos

Jornalistas da Argentina, México e Equador apresentaram suas investigações sobre o enriquecimento ilícito de personalidades públicas de seus países, na segunda plenária desta tarde.

Daniel Santoro, do jornal argentino Clarín, mostrou a máfia dos medicamentos e o cruzamento de dados que apontaram para a relação entre os negócios de Hugo Moyano e a campanha eleitoral de Cristina Kirchner. Com contas na Suíça e no Uruguai, Moyano também fazia desvios de dinheiro público. “Quando aparecem os paraísos fiscais destes países em uma investigação, é necessário acender a luz amarela”, alerta Santoro.

Mónica Almeida, do jornal El Universo – veículo deste país sede do evento, Equador – relatou como Irina Cabezas, vice-presidente da Assembléia Nacional, obteve um crescimento considerável em seu patrimônio que não correspondia aos seus rendimentos declarados. Com a ajuda de um operador político oculto, ela também ganhou apoio dos seus pares e muito poder no governo. Em um pronunciamento do presidente Rafael Correa, apresentado por Mónica, ele sai em defesa de Irina e classifica a imprensa local de “corrupta”, principalmente o jornal El Universo, que publicou a denúncia.

O patrimônio estrondoso do presidente Felipe Calderón, do México, foi o tema da apresentação de Daniel Lizárraga, da revista Proceso. Nos últimos anos, seus bens cresceram onze vezes e incluem casas e um edifício situados em uma mesma quadra, onde vivem parentes e secretários do presidente para despistar a declaração patrimonial pública.

Investigações brasileiras III

Encerrando as mesas de debates nesta manhã, a Colpin mostrou duas séries de reportagens brasileiras já premiadas. A primeira delas é da equipe paranaense do jornal Gazeta do Povo e da emissora RCP TV, ambas do mesmo grupo de comunicação: uma extensa e detalhada investigação sobre os “Diários Secretos” da Assembléia Legislativa do Paraná. Com publicações simultâneas e complementares no jornal impresso, na internet e na TV, as reportagens revelaram um esquema milionário de corrupção no órgão público.

Ao contrário do que se podia imaginar, o Diário Oficial da Assembléia não era público, não estava disponível para a população. Com acesso exclusivo aos dados, foram realizados cruzamentos das informações no Excel, que resultaram em mais de 15 mil linhas de números e ações secretas. Todo o trabalho foi divulgado em uma grandiosa base de dados, inclusive com a realização de um blog com as principais reportagens traduzidas para o espanhol e o inglês: http://www.rpctv.com.br/diariossecretos-espanol/

A repercussão foi a ocupação da Assembléia Legislativa por cerca de 500 estudantes e muitas manifestações se espalharam pela cidade de Curitiba, reunindo 30 mil pessoas, segundo a Gazeta do Povo. Na apresentação de hoje, a equipe mostrou uma das reportagens que foi veiculada na emissora, resumindo o caso. (Veja a apresentação)

Roberto Cabrini, do canal SBT, exibiu um resumo da série “Sexo, Intrigas e Poder”, originalmente veiculada no programa “Conexão Repórter”, apresentado pelo próprio jornalista. Por causa desta denúncia, três padres brasileiros estão sendo julgados atualmente por pedofilia, caso inédito na Justiça brasileira.

Na exibição mostrada durante a sua fala, nesta manhã, o trecho comprova o abuso sexual de coroinhas por padres de Arapiraca, Estado de Alagoas.

Acompanhe a cobertura por este blog e também no Twitter, pela hashtag #Colpin2011. O evento também está sendo transmitido pela internet neste site: http://www.colpin.ipys.org/

Investigações brasileiras II

Seguindo o debate sobre as investigações brasileiras na 3ª Colpin, a mesa “Investigando o País” trouxe os trabalhos de Leonencio Nossa, do jornal O Estado de S. Paulo, e de Lucio Vaz, publicada no Correio Brasiliense.

“As Guerras Desconhecidas” foi um caderno de 24 páginas, realizada por Leonencio Nossa, sobre 32 revoltas do século XX totalmente desconhecidas e não registradas nos livros de história e longe da memória coletiva do país. Com dados de documentos e depoimentos de pessoas envolvidas direta ou indiretamente, as reportagens mostraram também que 556 civis e 100 militares morreram nos combates. Além da equipe do próprio jornal, nas pequenas cidades os jornalistas contaram com a ajuda de radialistas locais para a busca de fontes, além de entrevistas com historiadores da região.

Leonencio salientou também que o Brasil tem o mito de ser cordial e que, ao contrário dos vizinhos latinos, não parte pra luta. A publicação, no entanto, mostrou que o brasileiro tem sim o sangue quente e que há muitas guerrilhas não conhecidas, de acordo com ele.

Lucio Vaz publicou no jornal Correio Brasiliense a série “Terras Estrangeiras”, na qual mostrou que as melhores terras do país estão em mãos de empresários e empreendedores estrangeiros, sem o controle do governo federal. Muitas das empresas, inclusive, foram registradas como nacionais para burlar a fiscalização. A princípio, a pauta não era exatamente essa, mas surgiu de acordo com análises de dados.

O repórter contou com a ajuda de uma fonte do Incra, que fez o levantamento dos dados filtrando os números por cada município, mostrando onde estavam os maiores investimentos. No Nordeste, os investimentos estrangeiros se concentram no Ceará, onde o governo local também investe na infraestrutura só para atender aos empreendimentos estrangeiros, enquanto boa parte da cidade não tem sequer saneamento básico.

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Investigações brasileiras I

Neste segundo dia de debates, jornalistas brasileiros apresentaram as principais reportagens investigativas publicadas em 2010 e a repercussão ao longo desde ano. O Brasil é o país convidado nesta edição da Colpin.

Para começar os trabalhos, Veridiana Sedeh mostrou a atuação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e como os cursos de Reportagem com Auxílio do Computador (RAC) contribuíram em algumas dessas séries de matérias que estão concorrendo ao Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo na noite deste sábado, aqui em Guayaquil, no Equador. (Veja aqui a apresentação)

Rubens Valente, do jornal Folha de S. Paulo, detalhou a investigação que levou à queda de Erenice Guerra ainda durante o governo Lula e na época da eleição da presidente Dilma Rousseff. Por meio de um trabalho de equipe, no qual cada repórter entrevistava diferentes tipos de fontes e juntos analisavam os documentos, o jornal procurou fazer uma investigação própria a partir de uma denúncia da revista Veja. A Folha mostrou o lobby de filhos de Erenice dentro da Casa Civil e como os encontros com o governo ocorriam em locais privados. O trabalho teve grande repercussão internacional nos princiapais jornais. (Veja a apresentação)

Na continuação, Andreza Matais, também da Folha, falou sobre o caso do ministro Antonio Palocci, segunda denúncia do jornal que também derrubou um membro importante do governo. Da mesma forma, a investigação foi feita pela equipe de jornalistas da sucursal de Brasília, com participação de Rubens Valente e outros repórteres. No caso de Palocci, a pesquisa mostrou o rápido enriquecimento do ministro, questionado inclusive pelo próprio PT. (Veja aqui a apresentação)

Leandro Colon, do jornal Estado de S. Paulo e que ganhou o segundo prêmio na Colpin de 2010, volta ao evento para mostrar a série de reportagens sobre as fraudes no orçamento federal. As reportagens mostraram como as organizações não-governamentais fantasmas contratadas pelo governo não realizavam os eventos contratados e as verbas federais foram desviadas. O esquema envolvia muitos deputados, inclusive o relator do orçamento. Colon enfatizou a metodologia do trabalho e a necessidade de pesquisar e analisar as informações públicas disponíveis, como a leitura cuidadosa do Diário Oficial da União e a dedicação quase exclusiva de repórteres para essas investigações. (Veja a apresentação)

Para o jornal Estado de Minas, o repórter Thiago Herdy investigou as notas frias usadas pelos parlamentares estaduais para ter o reembolso dos gastos, previstos pela verbas indenizatórias. Com um trabalho detalhado de Reportagem com Auxílio do Computador, Herdy e a equipe de repórteres mostraram como é possível chegar a uma denúncia analisando as próprias informações públicas que estavam disponíveis no site da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Usando os recursos do Google Maps, eles também localizaram as empresas frias no mapa. (Veja a apresentação)

A plenária seguinte também vai reunir jornalistas brasileiros. Acompanhe a cobertura por este blog e também no Twitter, pela hashtag #Colpin2011. O evento também está sendo transmitido pela internet neste site: http://www.colpin.ipys.org/